Segundo texto em Lisboa

O camaleão é um réptil escamoso da família dos lagartos (Chamaeleonidae). São conhecidas cerca de 160 espécies de camaleão, sendo que, a maior parte vive na África.  O nome “camaleão” vem do grego chamailéon, e significa leão rasteiro. Os camaleões têm a habilidades de se disfarçar no ambiente em que estão. O comprimento desses répteis é de geralmente 60 cm, podendo atingir um metro de comprimento. Possui patas fortes e uma crista que vai da nuca a cauda.

 

 

Camaleônico, tenho ouvido esta palavra, como uma característica atribuída a mim, algumas vezes. Não sei bem o que querem dizer, mas fui ao Wikipédia saber um pouco mais sobre este bichinho com capacidade de se camuflar para se defender, proteger e, aí, talvez esteja à característica a mim relacionada. Ouvi isto a primeira vez em Ipatinga, de uma pessoa a quem mostrava algumas fotos de trabalho e que, realmente, estava bem diferente na maioria delas. Cabelo, barba, careca, roupa um conjunto de coisas que somadas faziam com que, naquele recorte, fosse notada sim uma ‘mutação’ quadro a quadro. Este comentário me lembrou duma temporada em Buenos Aires onde, sutilmente ou inconsciente ou de argentinos e de estrangeiros residentes lá que eu não parecia brasileiro, que eu poderia dizer que sou argentino tranquilamente. De fato, ao andar pela Rua Florida, rua muitíssimo movimentada, principalmente por turistas, quando só, estes vendedores que sempre abordam turistas em potencial, nunca me abordavam, mas quando acompanhado de algum amigo, outro brasileiro, aí sempre éramos abordados. Percebendo isto perguntei e foi clara a resposta ‘… te abordamos por causa do seu amigo. Você não é argentino?’. Ok, tranquilo, mas aqui em Lisboa, enquanto tudo que tenho visto, vivido, percebido tem me levado a uma percepção da minha identidade, de, de repente, uma afirmação das minhas convicções e também frustrações, este comentário, esta, digamos característica, tem me feito pensar. Aqui também já ouvi várias vezes ‘… Pois, és brasileiro? Não tens nada de brasileiro’, ‘Você não é árabe?’, mas uma me fez, de vez, parar e pensar neste assunto. Quando posto uma foto de um evento em que participei aqui e ouço, de meus companheiros de trabalho ‘… Realmente você é camaleônico. Veja como você se parece com as pessoas daí. (me comparando a outros que estavam na foto)’. O que temos, nós os brasileiros, que seria, fisicamente, superficialmente olhando, seria só nosso? Qual nosso clichê característico? Não que me incomodem tais comentários, não é isto, mas fico pensando nas vantagens e também desvantagens de ser camaleônico, se é que isto existe. Não estaria aí um risco de se perder, perder sua identidade? E não é pelo fato de estar usando as mesmas roupas que usam nestes países, pois na foto mesmo, alvo deste comentário, estou com minhas roupas trazidas do Brasil, mas então onde está em mim esta capacidade de me camuflar e por que acontece? Para me proteger devido ao fato de estar em outro país, outros modos, outra cultura, outra forma de encarar e ver o mundo? Como me reafirmar nesta dicotomia, já que estou indo de encontro a mim mesmo? Se disfarçar no ambiente em que está. Camuflar-se, tornar-se invisível. Ser quem eu quiser? É, pode ter suas vantagens… E não somos quem nos projetamos ser em vários segmentos em que temos que estar? Mais uma vez plagiando Maria Bethânia, ‘somos imitação de nós mesmos’. Cada vez me fortalece mais esta busca, este entendimento pelas minhas próprias questões dentro deste universo que me permito habitar, o universo da dança contemporânea que é de experimentação, estudo, procura, poucas certezas, muitas questões, mas imensamente revitalizador e instigante. Brasileiro, português, argentino, árabe sejam mais quantas forem as nacionalidades a mim atribuídas vou me encontrando onde estou, mas primeiramente no corpo em que habito e ouso colocar nesta jornada comigo. Vou me encontrando um pouco em cada um com quem cruzo, sejam as boas e as não tão boas percepções. Vou vivendo este presente de descobertas.

 

P.S. Não se trata de uma crise de identidade ou algo do gênero. São apenas divagações, pensamentos.