Este Corpo tem todo o controle sobre o som e a luz que irradia de si mesmo. Inclusive controla a direção que escolhe caminhar ainda que saiba que isto foge ao seu domínio. É a partir dessa premissa que o espetáculo teatral propõe uma reflexão em torno das diversas narrativas que subvertem a lógica de corpos estigmatizados, mais especificamente – o negro. Levanta questões que permeiam a sexualidade, o afeto, a estética e a subjetividade. Por meio de uma dramaturgia não linear, a montagem destaca os deslizes cotidianos que estão enraizados em um país que é preto, e que, sobretudo, negam aos corpos periféricos uma possibilidade de existência plena.
O espetáculo traz consigo questões que o corpo do artista Gustavo Nascimento carrega; a necessidade de se apropriar de discursos, como forma de obter uma consciência cada vez maior de si e de sua negritude enquanto potência criativa. Sua pesquisa tem como ponto de partida dezembro de 2017 quando prepõe a performance Experimento Para Um Homem-Livre. Essa performance visou iniciar uma investigação em torno das questões que permeiam a negritude, entendendo o corpo ao qual o artista habita portador de vários estigmas: sexuais, comportamentais, estéticos, etc. A partir do existencialismo sartreano, essa ação procurou refletir sobre as limitações que encontramos ao ter que lidar com o Outro; a problemática que envolve o “ser livre”, onde nascemos em condições pré-determinadas e aleatórias, que muito dizem sobre as nossas possibilidades de existência plena.
O monólogo vem como uma sequência a essas reflexões sobre o universo negro, partindo do próprio corpo como instrumento de pesquisa de estéticas que dialoguem com as problemáticas que envolvem o corpo negro e a negritude; refletir sobre as narrativas que permeiam estes corpos subvertendo sua lógica subjetiva e da percepção de si mesmo no coletivo. Como forma de reagir a essas várias inquietações desencadeadas por meio da performance, Este Corpo também acontece como uma espécie de teatro-perfomance. É utilizado de uma linguagem performática pra falar destes corpos, tão únicos e singulares, que por sua vez, possuem sua própria narrativa. O espetáculo é um grande aparato a percepções gerais que se debruçam em cima de corpos – negros, mas não somente negros, como também portadores de outros demarcadores.
Este Corpo é o primeiro trabalho genuinamente meu. É um desejo que pra além do viés artístico, exista ali um teor social. A ideia do teatro centrado na busca por uma cena capaz de conscientizar o espectador muito me agrada, e arriscar nesses campos mesmo sem ter tanta experiência, é uma forma de apropriação dos meios de produção simbólicos de cena, assumindo o risco imaginário por minha própria conta em risco. E o risco sempre é enriquecedor. Este trabalho pontua algumas percepções que tenho de mim mesmo e da minha interação na sociedade. Gustavo Nascimento assina a direção, texto e também é quem empresta seu corpo pra que se (re)descubra e se descortine na cena.
A Dança como Poética da Fragilidade
O Núcleo de Dança-Dor, sob a direção de Gessé Rosa, apresentou, no último fim de semana, “CUIDADO FRÁGIL” na Academia Alta Performance em Coronel Fabriciano,